Pedro Alves e Gonçalo Silva brilham em Marrocos

Nos passados dia 1 e 2 de Julho, os atletas do Clube Aventura da Madeira Gonçalo Silva e Pedro Alves fizeram a sua estreia nas sempre duras provas de trail fora do território europeu. Os atletas deslocaram-se até Marrocos, mais concretamente ao Maciço Montanhoso do Atlas, para uma participação na 2ª edição do Ultra Trail do Atlas Toubkal (UTAT). Participação esta que ficará nas memórias destes dois atletas, que apesar das duras condições da prova, ambos obtiveram as suas melhores classificações individuais até ao momento, terminando Pedro Alves na 2ª posição e Gonçalo Silva na 3ª posição.

Os atletas iam à partida para uma participação num percurso de 105km’s com 6500m D+ (desnível positivo acumulado), contudo à chegada a Oukaimedene (localidade que funciona como base da prova) a organização informou que por questões de autorização de passagem em algumas aldeias e ultilização do helicóptero, a prova principal de 105km’s teve que ser anulada, e como alternativa, aos atletas inscritos foi proposto um Challenge de dois dias. Deste modo, o primeiro dia foi um percurso de 45km’s com 3000m’s D+, com uma altitude máxima de 3230 ao passar o Colo Tizi n’Tacheddirt, e o segundo dia um percurso de 25km’s com 1700m’s D+, com uma passagem no Colo Tizi n’ou Addi (2955m) e uma última subida muito técnica ao Colo Tizi u’Oukaimedene (2758m).

Com a chegada a Marraquexe no dia 29, os atletas deslocaram-se de imediato para Oukaimedene por meio do transporte disponibilizado pela organização e instalando-se no refúgio do Club Alpin Francais (CAF). Com o dia seguinte livre, pela manhã os dois atletas aproveitaram para fazer o reconhecimento do início do percurso, subindo ao primeiro colo do percurso com 3100m de altitude, realizando um total de 24km’s numa marcha relaxada, aproveitando para tirar umas fotos da paisagem e ver uma pinturas rupestres datadas de 2000 AC. A parte da tarde foi reservada ao habitual levantamento do peitoral e verificação do material obrigatório. Ao jantar foi realizado o briefing do percurso, onde foi salientado a dificuldade do percurso nomeadamente a exposição à altitude, a irregularidade e inclinação dos trilhos, bem como as altas temperaturas que se iam fazer sentir, obrigando uma especial atenção á hidratação e alimentação. Neste briefing, foi revelado uma participação especial de Mohamed Ahansal, vencedor incontestável de 11 edições da mítica Marathon des Sables.

O primeiro percurso, que teve início ás 7h do dia 1, acabou por se confirmar bem duro. Os atletas do CAMadeira iniciaram a um ritmo mais forte que o habitual, seguindo Gonçalo Silva um pouco á frente na primeira subida acima dos 3000m. Pedro Alves passou para a frente de Gonçalo na descida, mas acabaram por chegar juntos ao primeiro abastecimento, para logo depois, debaixo de um forte sol subirem juntos na penosa subida dos 1800m até aos 3230m do Colo Tizi n’Tacheddirt. Esta subida foi complicada para muitos atletas, tendo muitos deles sido assistidos pelo médico da prova no cume, com administração de oxigénio. A descida até ao próximo abastecimento foi complicada também, num terreno seco com muitas rochas, onde Pedro novamente se adiantou em relação a Gonçalo, que apesar de não conseguir acompanhar Pedro ainda sofreu uma queda que lhe afectou um pouco o joelho esquerdo. A última subida, apesar de ter menor desnível e o colo ser mais baixo que o anterior, revelou-se muito pior com uma inclinação maior e um trilho muito rochoso, dificultando imenso a progressão. Os últimos km’s deste primeiro dia foram então mais suaves, primeiro com uma descida de 400m de desnível e depois um terreno plano que permitiu seguir a um suave trote até à meta. O vencedor acabou por ser naturalmente o Mohamed Ahansal, enquanto que Pedro terminou em 10º com 6h43m e Gonçalo em 11º com 6h59m.

O segundo dia, apesar de mais curto foi mais exigente. A dureza do percurso do dia anterior acabou por ter consequências em alguns atletas do Challenge de dois dias, havendo alguns que não se apresentaram na partida, e os poucos que partiram, foram bastante limitados pelo cansaço e alguns problemas musculares. O início do percurso foi com uns 2 km’s planos que permitiu um ligeiro aquecimento dos músculos, para uma primeira subida fácil aos 3000m e logo depois a primeira dificuldade do dia, uma descida muito técnica até a aldeia de Tacheddirt num terreno muito escorregadio com passagens muitos estreitas e expostas. Entre Tacheddirt e Amskere o trilho foi mais fácil, com os atletas passando por uma séries de aldeias Berberes. O abastecimento foi só em Amskere ao km 17, no início da última subida da prova até ao Colo de Tizi o’Oukaimedene (2758m), subida muito difícil pelo trilho rochoso e exposição ao sol bem quente, exigindo um esforço bem grande por parte dos atletas. Gonçalo Silva chegou mesmo a cruzar-se com um participante Berbere com sérias dificuldades, completamente exausto e desorientado, tendo lhe dado todo o seu alimento energético antes de seguir. Os dois atletas do CAMadeira seguiram sempre separados desde a partida, com Pedro Alves a seguir mais à frente com um incrível ritmo, a controlar o atleta Brahim Idali classificado á sua frente no dia anterior, mas infelizmente na última subida Brahim subiu muito forte e Pedro acabou por manter o seu ritmo. Gonçalo seguiu sempre a ritmo mais lento, apenas controlando os atletas que poderiam por em causa a classificação do dia anterior. O vencedor do segundo dia acabou por ser o marroquino Aourik El Houssain, terminando o Pedro em 12º com 3h44m e Gonçalo em 21º com 4h51m.

Em termos de classificação do Challenge, apenas 8 atletas conseguiram terminar este duro desafio, tendo os dois atletas do Clube Aventura da Madeira se classificado no pódio logo atrás do marroquino Brahim Idali. Pedro Alves depois de ter feito a dura prova da Serra da Freita três dias antes, consegue um excelente 2º lugar com um total de 10h27m e Gonçalo Silva classifica-se em 3º com um total de 11h51m.

GONÇALO SILVA : “Esta participação foi muito positiva, não só em termos das nossas classificações, bem como em termos de preparação para o Tor des Geants, pois eu e o Pedro conseguimos ter uma boa noção do que vai ser subir acima dos 3000m em setembro. E apesar de não termos feito a prova de 105km’s, os 70km’s totais da prova mais os 24km’s que fizemos no dia anterior foram dar quase ao mesmo. O Pedro merece um grande destaque por este resultado, especialmente por ter vindo desgastado da dura Serra da Freita, onde com muito mérito também a terminou. A prova correu-me bem pior no primeiro dia, especialmente nas descidas, tendo numa delas caído e afectando um pouco o já crónico joelho esquerdo. Mas a minha maior dificuldade foi mesmo os problemas gástricos do primeiro dia, que me impediram de hidratar e alimentar bem, o que acabou por comprometer o meu rendimento. Partir no segundo dia para os últimos 25km, foi muito doloroso, as pernas estavam muito cansadas e doridas, descer as escadas do refúgio já era um custo! Apesar de me sentir melhor a nível gástrico, o desgaste e as dores musculares derivadas do dia anterior limitaram-me o andamento, tendo feito uma gestão de ritmo em atenção ao atletas adversários, a fim de não perder lugares na classificação.
Outro aspecto positivo desta nossa participação foi ter sido a nossa estreia fora da Europa, que nos permitiu ter conhecimento de uma realidade bem diferente da nossa, a paisagem, a cultura, as pessoas.. eu e o Pedro ficamos sensibilizados pelas condições que alguns berberes que entraram na prova, com calçado completamente inadequado bem como bem estragado, tendo no final da prova termos oferecido os nossos ténis a dois deles.”

PEDRO ALVES : “Sinceramente não estava á espera de me sentir tão bem, e especialmente deste resultado, pois vinha de uma participação bem complicada na Serra da Freita. Tanto eu como o Gonçalo partimos bem no 1º dia, um pouco mais rápidos que o habitual, e como nunca fui tendo algum maior sintoma de algum problema consegui manter esse bom ritmo. Para o segundo dia estávamos ansiosos para ver como corria, pois o primeiro dia deixou-nos um pouco mal maltratados muscularmente.. Acabei por me sentir igualmente bem no segundo dia, e parti igualmente a um forte ritmo, logo atrás do atleta berbere que se tinha classificado à minha frente a ver se conseguia o passar e ganhar mais um lugar na classificação, mas infelizmente ele seguia a um ritmo mais forte e bem mais descontraído que eu, então optei por manter o meu ritmo e assim não ter o risco de ter algum problema físico e comprometer a minha classificação.
Como aspectos que me marcaram, a passagem pela aldeias berberes foi algo muito especial, como na última aldeia do segundo dia, onde duas crianças correram um pouco connosco ao logo da ruelas da aldeia. Outro aspecto foi mesmo a dureza da prova, especialmente no primeiro dia o facto de alguns atletas precisarem de oxigénio pelo esforço na subida do colo Tizi n’Tacheddir.
Apesar do bom resultado, o aspecto mais positivo foi termos nos dado bem com a altitude, umas das razões principais que nos levou a escolher esta prova tendo em conta a nossa preparação para o Tor des Geants…”

SITE DA PROVA (CLASSIFICAÇÕES E FOTOS)

ÁLBUM PICASA GONÇALO

ÁLBUM PICASA MICHEL RAVEU